Tuesday, September 28

Flamenco



Num palco todo negro estão de preto sentados dois homens. O primeiro exibe as mãos claras e o segundo uma guitarra... Toca...... Soam escalas e arabescos, rápidos e bruscos assimetricamente. Como chicotadas no ar estalam cordas contra os trastes e as palmas batem a tempo, contra o tempo da pulsação altiva de que se vai pontuando o discurso lânguido e quente do primeiro homem de cabelos crespos longos e pretos.
E eis que, num segundo de silêncio, surge de um canto esquerdo uma mulher.
. De branco... Uma mulher maciça e branca.... Uma jovem mulher maciça, com pequenas ondas brancas rebentando a seus pés invisíveis. Da cabeça brota uma planta sanguínea que se desfolha sobre o brilho metálico e liso dos cabelos repuxados. Suas ancas opacas e redondas puxam-na inteira, num movimento deslizante da maré que a sustém, e seus braços arqueiam cegos na busca das invisíveis alavancas do tempo.



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