Thursday, January 6

respiração circular ( III )

...Confesso que o meu interesse imediato era ter a vida facilitada e nada tinha que ver com novas exigências estéticas relacionadas com o som nem nada disso. Queria era poder respirar quando bem me apetecesse sem criar interrupções e deixar assim de me preocupar, caso não conseguisse respirar normalmente no momento musicalmente indicado; poder remediar, no caso de me esquecer de respirar quando devia ou até mesmo poder perdoar certas fumaças indevidas...

Mas não é fácil. Para tocar e respirar ao mesmo tempo, sobretudo se for flauta transversal, é necessário manter uma pressão de ar elevada, e quando não se tem qualquer espécie de palheta ou bocal que ajude a criar essa pressão por meio de um afunilamento, a única maneira de conseguir é aumentando a quantidade de ar. Ora, se se exige o mais alto nível de pressão, precisamente no momento em que se tem que expirar e inspirar ao mesmo tempo, todo o ar de que dispomos é o que está confinado à cavidade bucal. E boca grande é coisa que, felizmente, nunca tive.

Durante anos amadureci a ideia na minha cabeça. Zero de exercícios. Zero de motivação para um tipo de trabalho, um método, que me levasse a aperfeiçoar os poucos rudimentos instintivos que possuía, da mecânica da dita técnica. Não é para me gabar. Era antes vergonhosamente arrogante, essa certeza de que não seria necessário esforçar-me para vir a conseguir realizá-la.
Mantinha porém a estranha fé...
de que esse truque de aspecto paradoxal um dia seria meu.
.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home