Thursday, December 9

"Intentions" de Oscar Wilde

«(...) GILBERT (levantando-se do piano) Esta noite não me apetece falar. É horrivel pores-te a sorrir. É verdade que não me apetece. Onde estão os meus cigarros? Ah, obrigado. Que maravilhosos são estes narcisos! Parecem feitos de âmbar e de marfim frio. São como as coisas gregas do melhor período. Que história era aquela nas confissões desse académico cheio de remorsos que te fez rir? Conta-me. Depois de tocar Chopin, sinto-me como se tivesse estado a chorar por pecados que nunca cometi ou a carpir tragédias que não me diziam respeito. A música parece-me sempre produzir esse efeito. Cria-nos um passado que ignorávamos e inunda-nos com a sensação de tristezas que estavam escondidas das nossas próprias lágrimas. É-me fácil imaginar um homem que, depois de uma vida perfeitamente vulgar, ouvindo por acaso uma curiosa composição musical, descobre subitamente que, sem que tivesse tido consciência disso, a sua alma passara por experiências terríveis e conhecera alegrias temerosas, exaltados amores românticos ou grandes renúncias. Por isso te peço que me contes essa história, Ernest. Quero divertir-me. (...)»

WILDE , Oscar, «Intenções, Quatro ensaios sobre estética»

[«O Crítico com artista, Incluindo algumas reflexões sobre a importância de não fazer nada»],
Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 1992



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