"O efeito ético da arte, a sua importância para a cultura e o seu lugar na formação do carácter tinham sido tratados de uma vez por todas por Platão; mas aqui vemos a arte tratada não de um ponto de vista moral, mas de um ponto de vista estético. Platão tinha, é claro, abordado muitos assuntos estritamente artísticos, tais como a importância da unidade numa obra de arte, a necessidade da harmonia e do tom, o valor estético das aparências, a relação das artes visíveis com o mundo exterior e a relação da ficção com os factos. Foi talvez ele o primeiro a agitar na alma do homem aquele desejo de conhecer a ligação entre a Beleza e a Verdade na ordem moral e intelectual do Cosmos. Os problemas do idealismo e do realismo, tal como os expõe, poderão parecer a muitos relativamente estéreis de resultados no domínio metafísico do ser abstracto em que os coloca, mas, se os transferires para a esfera da arte, verás como são ainda vitais e plenos de sentido. Talvez seja como crítico da Beleza que Platão esteja destinado a viver, e talvez encontremos nele, se alterarmos o nome do campo da sua especulação, uma nova filosofia. Aristóteles, por seu lado, tal como Goethe, aborda a Arte primeiramente nas suas manifestações concretas, considerando, por exemplo, a Tragédia e investigando o material que usa, que é a linguagem, o tema que aborda, que é a vida, o modo como se organiza, que é a acção, as condições sob que se revela, que são as da representação teatral, a sua estrutura lógica, que é o enredo, e o seu apelo estético final, que é o sentido da beleza realizado através das paixões do temor e da piedade. Essa purificação e espiritualização da natureza a que ele chama Catarse é, como Goethe viu, essencialmente estética e não, como Lessing imaginava, moral. Ocupando-se principalmente da impressão que a obra de arte produz, Aristóteles dispôs-se a analisar essa impressão, a investigar a sua origem e a notar como é engendrada. Como fisiólogo e psicólogo, sabia que a saúde de uma função reside na sua energia. Ter capacidade para uma paixão e não realizá-la é tornar-se incompleto e limitado."
OSCAR WILDE